terça-feira, 9 de setembro de 2008

Cocaina I

Pensamentos rígidos, cortantes, pairantes. Afirmo-me no silêncio com vontade de engolir a minha própria língua, enjoam-me as palavras que são lançadas sem nexo, talvez pela arrogância de achar um abuso que tentem voar dentro de mim. A mente oscila afiada como uma lamina, ou apenas como uns braços abertos cheios de fome tentando provar o barro do Vazio. Humidades e lamas, terras húmidas não pensadas, na verdade apenas olhos franzidos, apenas o desejo de reclamar porque há muita luz no mundo, muita conversa a iluminar. Por outro lado apetecia-me a doçura das ruas desertas naquela madrugada, apetecia-me partilhar a minha desconexão com o mundo e tentar explicar o porquê do mundo poder estar prestes a acabar. Apetecia-me gritar por socorro e lançar-me nos vossos braços, derreter-me e escapar-me por entre as vossas roupas num grito, numa agonia, abrindo tanto a boca e os olhos que vocês pudessem, nem que por breves instantes, visualizar o turbilhão, a crista das ondas, o colapsar divino.

domingo, 13 de julho de 2008

Salvia Divinorum II

Sentei-me no topo de Lisboa, alto da Graça, debruçado sobre a massa de telhados e o despenteio das antenas que se estende até ao Tejo. Contemplei o fim de tarde que se abatia sobre a cidade. Preparei o bongo e com o maçarico ateei a Salvia aglomerada no cachimbo, inalando o fumo e fixando o tição incandescente que se iluminava. Guardei o fumo nos pulmões, pouco mudou. Apenas no fim aquele vibrar universal que me garante que ao segundo bafo ia partir. Expeli o fumo e prontamente voltei a atiçar a erva no cachimbo, enquanto, agora com força redobrada, forçava o fumo a invadir-me o peito novamente. Expeli o ar, passei o bongo e debrucei-me sobre o parapeito.

Foi aí então que, vinda de trás, uma força me firmou pela cintura puxando-me abruptamente para outro lugar. Durante um momento foi o vazio, sem formas, sem sons, sem tempo, sem mim. Depois então voltei um pouco a mim, mas já nesse outro mundo. O meu corpo abriu-se como um leque, segmentando-me verticalmente da esquerda para a direita, em fino filamentos, mas ao invés de um leque não parou de se abrir. Acompanhado de um silvar constante, eu rodava sobre o eixo dos meus pés, como que os carretos de uma bicicleta, sem parar, desmultiplicando-me. E formou-se o primeiro pensamento. Ao ver-me assim, conclui que eu sempre tinha sido aquilo, um mecanismo eternamente em rotação numa qualquer dimensão paralela, senti realmente a eternidade a pesar-me como que vivida e experienciada. Depois, não sei bem como ,conclui que não... Eu era sim um estore, o estore daquela sala, obviamente! E toda aquela força centrifuga sentida pela rotação eterna era então, apenas, a força que eu combatia para voltar ao mundo dos meus. Talvez por agora poder ouvir-lhes a voz, tentava em desespero escapar à agonia de nunca ter existido, de ter sido tudo apenas uma espécie de sonho que se iria agora acabar votando-me à imaterialidade própria das coisas imateriais.
Depois, ao fim de um tempo que não sei precisar, a minha mente concluiu que todo aquele caos que girava à minha volta, aquelas vozes que agora começavam a penetrar no universo onde eu estava, tinham como causa uma tragédia. Eu tinha caído da janela! Algo tinha corrido terrivelmente mal durante a trip e eu tinha-me lançado da janela, estando agora na rua prostrado e incapaz de compreender que estava prestes a morrer. Sentia uma massa de braços, como se um corpo só unisse todos os corpos que me rodeavam enquanto caleidoscópicos
padrões de telhas se agitavam no fundo da minha mente, a tentar puxar-me para a vida. Senti uma tristeza sem fim, acreditava plenamente que nunca mais iria voltar a ver as pessoas que eu amava, que qualquer momento chegaria a ambulância ou simplesmente que acabaria por morrer ali, estendido no passeio da rua. Cada vez mais próximo, tentava compreender o que diziam as vozes
à minha volta, procurava uma pista para compreender quão grave era a situação... já não podia mais, a força centrifuga era forte de mais para lutar, o esforço mental para voltar à vida era grande de mais e eu impotente para lhe fazer frente. Lembro-me de me tornar mais sereno, como que me deixando cair no sentido da força sem resistir, pronto a morrer.

Voltei a mim frente à porta da cozinha, a ligar a luz. Ouvi uma voz, não sei se de fora para dentro ou de dentro para fora, a gritar - NÃO! Mas liguei a luz à mesma, e o vazio do espaço físico foi devorado pela brancura florescente da luz, deixando durante um ou dois segundos ainda um muco negro que se diluiu rapidamente.

quarta-feira, 25 de junho de 2008

Bill Hicks - Drugs

Drugs and Evolution



Positive Drug Story

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Salvia Divinorum I

Primeiro... Comprei a Salvia no bairro-alto (é legal) na Loja do Cogumelo Mágico (Rua Luz Soriano nº29). Para quem não sabe do que se trata, a Salvia é o mais potente alucinogénio encontrado na natureza.


A Salvia é vendida em varias formas, seja as folhas secas ou extractos com potências variadas (e sabores variados). Devido ao "poder" da substância é recomendável que no caso de se comprar extracto, se inicie experiência pelo extracto mais fraco (x5), embora seja provavelmente um gasto de dinheiro sem grandes resultados. Um dos factos mais reconfortantes desta substância é que segundo um estudo realizado no UK foi considerada a droga menos perigosa, numa lista de 20 drogas (onde constavam o tabaco e o álcool).


Agora leiam com atenção!

Para quem não gosta de fumar recomendo uma (boa) alternativa.. Uma das vantagens deste método é que sai bem mais barato do que comprar os extractos de Salvia, que embora sejam em teoria mais fortes, podem não bater.
Receita:

Coloca 3g de folhas de Salvia de molho numa tigela durante 10 minutos. Retira-os da água, espreme as folhas, forma uma bola/rolo e cobre as folhas com mel/açucar (esta parte serve só para não saber tão mal). Durante 30 minutos masca as folhas, engolindo a menor quantidade do suco possível, visto que a absorção da substância se dá na boca e não no estômago.
O que vem depois... Eu já provei algumas drogas e digo que nunca senti nada semelhante, que grande WTF. Um pessoa sente-se como que (fisicamente) puxada para outra dimensão, é completamente avassalador. Gostava de traduzir melhor por palavras, mas é realmente complicado.
Foi um pouco como se um wormhole se tivesse materializado debaixo de mim e esporadicamente me fosse sugando para outro universo e lançando de novo à realidade, havendo alturas em que me sentia entre mundos. Tudo isto acompanhado de alucinações visuais vívidas, mas que para ser franco, tiveram muito menos impacto do que a simples sensação "física" de estar entre mundos (seja lá o que isso for).

Abriram-se as portas para o WTF Empire!!!

Nunca tomem Salvia sozinhos, façam-se acompanhar por alguém sóbrio (muito importante) e não tentem Salvia como droga recriativa, é WTF de mais para tal coisa. Procurem também um ambiente relaxado e com pouca luz. O factor luz, pelo que fui lendo, é muito importante para uma experiência tranquila.

Procurem também ler um pouco sobre a Salvia, principalmente se pensarem fumar, porque tem alguns/muitos detalhes muito importantes para a coisa resultar.


Bem... mais uma etapa de exploração da salvia. Desta vez com o extracto X10, fumado, claro está.

Desta vez lembrei-me de construir um bongo caseiro e para minha surpresa mostrou-se bastante eficaz e barato. O único custo real foi o cachimbo, (aprox. 5€) de resto bastou uma garrafa de plástico velha e água da torneira.

Um dos problemas com o fumar da salvia é a alta temperatura necessária para libertar a substância activa e, consequentemente, a alta temperatura do ar que dificulta o suster do fumo nos pulmões durante o tempo necessário para o organismo absorver a substância (+/- 30 segundos). Assim, através do bongo, a temperatura é atingida no momento da combustão e posteriormente arrefecida no interior do bongo, com a ajuda da água.

Aqui fica um esquema simples do meu:

Photobucket
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O cachimbo entra no furo 1. O buraco tem de estar à medida para não haver perda de pressão, no caso o meu ficou mesmo à conta, mas acho que se pode vedar com pastilha elástica ou coisa assim...

O fumo é inalado pelo furo 2.

O Furo 3 serve para, com um dedo, ir controlando a pressão no interior da garrafa. (Tapando e destapando o furo, procurem na net por mais detalhes se tiverem duvidas.


Quanto à experiência. Foi bastante diferente de quando mascado. Por um lado o efeito é bastante mais curto, por outro é bastante mais forte.

Estava no meu quarto às escuras, com uma pessoa sóbria presente e ao segundo bafo já estava noutro local. Resumidamente... quando dei por mim estava em frente a um longo muro todo feito de pedra coberta de musgo e estava parado junto a uma bica de água. Sentia que havia varias pessoas à minha volta, sem as ver, como que à espera da vez delas para ir à bica e não sei bem porque sentia que uma avó minha que já morreu estava perto. Outra coisa curiosa, e que parece ser uma característica da salvia, quando olhava para a pessoa que estava comigo no quarto via-a claramente mas a minha perspectiva era como se eu tivesse numa dimensão/plano diferente. Estava ali ao lado mas por outro lado havia uma barreira quase que física a separar-nos. É uma coisa curiosa associada à salvia, alem das visões é-se acompanhado de sensações físicas muito nítidas mas que ao mesmo tempo são totalmente abstractas, ou impossíveis de verbalizar de forma coerente/lógica. Outra sensação estranha que me acompanhou, foi de algo, invisível, que seria como que um cordão da grossura de um pulso que me passava por debaixo da língua e saía junto ao queixo (pelo exterior) e que continuava infinitamente numa diagonal ascendente.

Nota Final: A Salvia é uma Substância legal e francamente poderosa. O uso desta substância de forma responsável é antes de mais um garante de que a mesma continuará legal.